Os monstros no Naturalismo

Abstract

To exorcise transcendence from the political or scientific domain is a common programme to Hobbes and Boyle. At that time, it was already the State (reduced to the role of Actor) or the laboratory (a non-human) that had the control over the ‘public thing’ or over matters of fact. The terrorizing prodigies of hermaphroditism, inter-sexuality, the bearded saint, and double monsters were no longer seen as inexplicable freaks of nature or mythology, and began to be understood as explicable anatomic malformations. Texts and the iconography of the monster as it was seen in naturalism, and particularly in medicine, are analysed. The concept of normality in human anatomy is a central concept in this domain. By raising old problems - such as the frontier between what is normal and what is abnormal, what is pure and what is impure –, the monster as deformity is an attack against nature, but it is controllable through science as long as it is chained to the concept of variation that is proper to transformism or to the concept of deviation from the statistical norm – what makes us all mathematically undisturbed.

Exorcizar a transcendência do domínio político ou científico é um programa comum a Hobbes e a Boyle. Já então, ou era o Estado – reduzido ao papel de Actor – ou o laboratório – um não- -humano – que arbitravam sobre a «coisa pública» ou sobre matters of fact. Os prodígios aterradores do hermafroditismo, a inter-sexualidade, a santa barbada, os monstros duplos deixam de ser vistos como caprichos da natureza ou da mitologia – inexplicáveis –, passando a ser analisados como más-formações anatómicas – explicáveis. Analisam-se textos e iconografia do monstro, tal como é visto no naturalismo, e de modo particular na medicina. O conceito de normalidade em anatomia humana é um conceito central neste domínio. O monstro, ao colocar problemas antigos: o das fronteiras do normal e do anormal, do puro e do impuro, é um atentado à natureza enquanto disformidade, mas controlável pela ciência, desde que agrilhoado no conceito de variação própria do transformismo, ou do desvio à norma estatística – o que nos deixa a todos matematicamente sossegados.