As palavras e as coisas: o tema da causalidade em Portugal (séculos XVI e XVIII)

Abstract

Estuda-se o tema da causalidade nos Comentários a Aristóteles dos Jesuítas de Coimbra (séc. XVI) e na Metafísica de Verney (séc. XVIII). Se, relativamente aos primeiros, interessou-nos sobretudo o tópico da causalidade exemplar e o tema das causas segundas (abordado e modificado pelo Descartes que chegou a conhecer aqueles textos de Coimbra), depois de se situar Verney numa época de crítica à metafísica peripatética, passou-se à abordagem da sua ontologia como lógica e, naturalmente, à integração da causalidade no quadro da relação. Historiograficamente, pleiteia-se por uma reavaliação da crítica de Verney à Escola, e, no âmbito de uma História da Metafísica por fazer, o seu papel, mesmo se no seu texto se pode ler a mesma palavra humeana que serviu a Kant para criticar a metafísica, não comporta o grau de produtividade que liga Coimbra ao filósofo alemão pré-crítico.

Two different Portuguese texts on Causality are the subject of this paper, one written by the Conimbricenses (16th. Century), the other by Luis António Verney (18th. Century), the former dealing mainly with exemplar causes and second causes (and their relations to Descartes), the latter with causality and relation. Without being entirely a post-metaphysical period, both the Century in which Verney wrote his Metaphysics, and the author himself, rejected the Peripatetic horizon of the Jesuits. However, interpreting their theory on Causality as a pure repetition of Aristotle it would be misleading and a bad contribution to a History of Philosophy in a permanent need of revision. Thus, after assessing Verney’s ontology, the paper aims at reestablishing the Jesuits Commentary in its own historical line, viz. as a contribution to the History of Metaphysics. In this particular point Verney’s criticism was irrelevant, even if one may read in his Metaphysics Hume’s precise topic that has awaken Kant from the alleged dogmatic slumber.