Família e intimidade: aspectos da semântica moderna da intimidade e a individuação do sujeito

Abstract

No presente ensaio pretendo sustentar a ideia segundo a qual a família da sociedade moderna resulta de um processo, de complexidade assinalável e de modo nenhum limitado à esfera da mais imediata “vida familiar”, de cruzamentos entre a observação da vida emocional, a formação do amor-paixão, a geração de fronteiras sistémicas e a observação da individualidade. De emoções adequadas e indivíduos que mutuamente se escolheram para em conjunto formarem um projecto de vida duradouro e repartirem recursos se faz, para a sociedade moderna e contemporânea, a base comunicacional sobre a família. No entanto, para organizar adequadamente a observação da vida emocional e para a associar à ideia de individualidade dos seus membros a sociedade moderna originou formas de comunicação e uma semântica de uma riqueza apreciável, que vai da construção de alguns géneros literários, como o romance e a novela, até aos tipos dos desvios sexuais da psiquiatria, das ideias ingénuas ou eruditas sobre a natureza dos sexos até aos discursos feministas sobre a igualdade do género. O conceito moderno de intimidade é o resultado de um cruzamento complexo destas vias, em que se jogou a modelação da emotividade, do género e da individualidade.

In the present essay I propose a focal thesis regarding the formation of the modern family which demands special attention to the connections between the observation of the emotional life, the emergence of “love as passion”, the generation of systemic boundaries and the observation of individuality. In order to systematize the observation of the emotional life and the observation of the individuality of family members, modern society created communication forms and semantics, going from some literary genres to the typologies pertaining to deviations of the psychiatric discourse, the naïve or erudite conceptions on the nature of the sexes or the feminist discourse on the equality of gender. The modern concept of intimacy is an historical evolution of the blending between these main sources of observations.