“Estas cousas Señora filha vos peço e encomemdo”: a imagem de consorte na família real portuguesa a partir das instruções de D. Manuel para D. Beatriz (1504-1538)

Abstract

Em Agosto de 1521 a armada que transportava D. Beatriz de Portugal, duquesa de Saboia, zarpava do Tejo rumo a Nice. A bordo seguia a filha de D. Manuel de Portugal com um numeroso e representativo séquito e dote, exemplo do que a coroa portuguesa tinha de melhor em luxo e aparato. Este era de resto um dos mecanismos utilizados por D. Manuel I na afirmação do seu poder: a utilização dos símbolos e das imagens em torno da família real como forma de afirmação política e social da coroa. Seguindo esta linha de pensamento havia o monarca Português escrito as suas Instrucções para a sua filha que agora casava, documento ímpar na análise do modelo de consorte régia no século XVI, para lá daquele que nos é dado pela cronística e pelos tratadístas. A partir desta preciosa fonte escrita pelo rei de Portugal do que se esperava de uma princesa, juntamente com apontamentos da vida desta infanta de Portugal e da sua mãe, D. Maria de Aragão, rainha de Portugal, pode-se reconstruir as linhas que ditavam a conduta de vida destas mulheres tão próximas dos centros de poder, mas que surgem por diversas vezes como meras “sombras” na história.

On August 1521, the fleet transporting D. Beatriz of Portugal, duchess of Savoy, set sail from the Tagus River to Nice. On board was the daughter of D.Manuel of Portugal with an enormous entourage and an impressive dowry, showcasing the luxury and the grandeur of the Portuguese crown. This was after all one of the ways D. Manuel used as a confirmation of his power: the use of the symbols and images surrounding the royal family as a form of political and social affirmation of the crown. Following this line of thought, the Portuguese king had written his Instrucções for his marrying daughter, an unique document when analyzing the model of the royal consort in the 16th century, beyond what is given to us by the chroniclers and the authors of moral treaties. From this valuable written source by the king of Portugal, of what was expected of a princess, together with real life events of this Portuguese Infanta and of her mother, D. Maria of Aragon Queen of Portugal, we can reconstruct the guide lines to the life conduct of these women so close to the power centres but that so often appear to be mere “shadows” in History.