No trilho histórico do cancro: percepções de incurabilidade, invocações sagradas e rejeição da medicina científica

Abstract

Enfermidade frustrante, tanto pela natureza insidiosa do seu crescimento, quanto pela proverbial resistência às tentativas terapêuticas da medicina científica, a compreensão humana sobre o cancro dependeu das crenças médicas sobre a natureza biológica dos tumores malignos, da ineficácia da terapêutica, e ainda dos valores, dor, sofrimento e modo como vemos o nosso próprio corpo. É o símbolo visível da mais angustiante percepção humana sobre a doença, cujas matrizes culturais mergulham no nosso passado mais recôndito. O presente artigo desenrola-se em redor da imemorial ideia de incurabilidade suscitada pela doença oncológica, patente nos séculos XVIII, XIX e ainda em meados do século XX, debruçando-se sobre alguns aspectos culturais que lhe são muito próprios.

Being a frustrating disease, as a result of the malignant nature of its growth and the resistance to the therapeutical attempts of scientific medicine, the human understanding of cancer depended on several aspects: the medical beliefs about the biological nature of neoplasmas, the ineffectiveness of medical treatments, and most of all, the atmosphere of suffering and pain. The present article approaches the immemorial idea of cancer incurability, present throughout the 18th, 19th and first half of the 20th century, pointing out some particular cultural aspects that surround this disease.