Paleo-ambientes holocénicos e erosão: interface clima, vegetação, homem: o exemplo do centro-litoral português

Abstract

A análise dos paleo-ambientes holocénicos é habitualmente realizada segundo uma nítida dicotomia entre as condições naturais ao longo de praticamente todo o Holocénico e a acção antrópica dos últimos séculos. No entanto, após o estudo dos perfis Freita 1 e Prova (datações a C14 e início dos estudos polínicos e granulométricos), esta análise parece necessitar de uma diferente orientação. Com um Holocénico inferior em que os parâmetros naturais (clima e vegetação) forneceram, após a incisão vertical do final do Tardiglaciar, as condições para a pouca importância da erosão nas vertentes das serras da Freita e do Caramulo, a introdução do factor antrópico, ao adicionar-se a relação entre os factores naturais, vai provocar uma nova dinâmica dos processos erosivos. Os primeiros vestígios de erosão significativa, nas vertentes destas montanhas remonta ao Atlântico médio (cerca de 6 000 BP). O Homem, através de incêndios, parece ter procurado conquistar espaços para a prática da pastorícia provocando, com o desaparecimento momentâneo da cobertura vegetal rasteira, o inicio da erosão, a qual deu origem à formação de pseudo-turfeiras nos vales mais elevados das serras. Entre o Neolítico médio (Atlântico médio) e a instalação romana (?) na área, o impacto da acção humana foi notório, embora a vegetação continuasse a desenvolver-se naturalmente. Contudo, a erosão reflectia um contínuo crescendo, mostrando desse modo uma reacção bem nítida do meio natural ao impacto antrópico. Com a reconquista crista (seculo X), uma importante fase da erosão começa a desenvolver-se, primeiramente com uma fase de incêndios, seguida do mais importante momento erosivo, ao tempo do abandono dos terrenos cultivados no seculo XII e, por fim, de uma nova fase de incêndios anterior ao seculo XIX. As actuais vertentes das Montanhas Ocidentais reflectem, assim, a acção erosiva do Holocénico superior sobre os depósitos würmianos que as modelavam, compreendendo-se deste modo a importância do factor antrópico na morfogénese holocénica.

L'analyse des paléo-environnements holocènes est habituellement réalisé avec une nette dichotomie entre les conditions naturelles, pendant pratiquement tout l'Holocène, et une action anthropique lors des derniers siècles. Apres l'étude des profils Freita-1 et Prova (datations au C14, analyses polliniques et granulométriques), cette analyse semble devoir faire l'objet d'une autre orientation. Il convient la distinguer un Holocène inferieur où, après l'incision verticale de la fin du Tardiglaciaire, les paramètres naturels (climat et végétation) fournirent les conditions d'une faible érosion sur les «serras» da Freita et du Caramulo, et, avec l'introduction du facteur anthropique s'ajoutant à la relation entre les facteurs naturels, un Holocène superieur où les processus érosifs vont prendre une nouvelle dynamique bien avant ce qui est habituellement mentionné. Les premiers vestiges d'érosion intense sur les versants de ces montagnes remontent a l'Atlantique moyen (aux alentours de 6 000 BP). L'Homme, par le truchement d'incendies, chercha à conquérir des espaces visant la pratique pastorale, provoquant ainsi, avec la disparition de la couverture végétale, le début de l'érosion donnant origine, à la formation de pseudo-tourbières dans les vallées les plus élevées des Montagnes Occidentales. Entre le Néolithique moyen (Atlantique moyen) et l'installation romaine, l'impact de l'action humaine fut notoire, bien que la végétation ait continué à se développer naturellement. L'érosion reflétait une croissance continue, démontrant, de la sorte, une réaction bien nette du milieu naturel à l'impact anthropique. Avec la reconquête chrétienne (Xème siècle) une importante phase d'érosion commence à se développer. En premier lieu, elle se caracterisé par une augmentation des incendies, suivis des moments érosifs les plus importants à l'époque de l'abandon des terres cultivées au Xllème siècle elle se termine au moment d'une nouvelle recrudescense les feux avant la XIXème siècle. Les versants actuels des Montagnes Occidentales reflètent ainsi l'action érosive de l'Holocène supérieur sur les dépôts würmiens qui les modelaient. On comprend de la sorte l'importance du facteur anthropique sur la morphogénèse holocène.

The analysis of Holocene palaeo-environments is usually conducted according to a clear-cut dichotomy whereby a consideration of the natural conditions verified during practically the entire Holocene is combined with a focus on the anthropic action of the last centuries of the period in question. However, after the completion of the study of profiles Freita-1 and Prova (14 C datings, pollen and granulometric analysis), such analysis seems to need a different orientation. Given a lower Holocene period in the course of which, after the vertical incision that took place towards the end of the Tardiglacial, the natural parameters (climate and vegetation) provided the conditions that led to the relative unimportance of erosion in the slopes of Serra da Freita and Serra do Caramulo; and given also the emergence of the anthropic factor - wich only added to the interaction of the natural factors -, the erosive processes acquired a new dynamics before the time at which it is commonly said to have happened. The earliest vestiges of intense erosion in the slopes of these mountains date back from the middle Atlantic period (c. 6 000 BP). Through forest fires, Man sought to conquer space for the practice of pastoralism. As a consequence, the low vegetable cover disappeared temporarily and erosion began its course, causing the formation of pseudo-peat bogs in the highest valleys of the Western Mountains. The impact of human action from the middle Neolithic (middle Atlantic) to the time of the Roman settlement in the area is notorious, even though the vegetation continued to develop in a normal way. However, erosion continues to increase more and more, thus evincing on the part of the natural environment a clear reaction to anthropic impact. The Christian Reconquest (10th century) sees the beginning of a significant erosion process. In its first stage, this process is characterized by forest fires, after which comes its most important erosive moment- when, owing to a considerable decrease of the population, there occurs an abandonment of the cultivated fields in the 12th century-, and finally ends with a new fire wave prior to the 19th century. Thus, today the slopes of the Western Moutains reflect the erosive action of the upper Holocene upon the Würm deposits that used to shape them, which accounts for the relevance of the anthropic factor in the Holocene morphogenesis.