Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316.2/40609
Title: Terciarização e desenvolvimento
Authors: Oliveira, J. M. Pereira de
Matos, Mário Antunes de
Issue Date: 1991
Publisher: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Abstract: «Colin Clark, num esforço de sistematização que com facilidade foi adoptado por cientistas e pela literatura de várias especialidades, dividiu as actividades económicas em três conjuntos a que chamou sectores de actividade e designou-os muito simplesmente por: sector primário, sector secundário e sector terciário. Estas singelas designações, na sua expressão semântica, resumem na realidade o conceito de sequência filogénica dos fenómenos de economia e ainda o não menos importante conceito de solidariedade dos elementos e dos factores neles intervenientes». « ... , no sector terciário, são consideradas as actividades tais como os comércios por grosso e a retalho e os serviços. Os comércios constituem um primeiro sub-grupo na sua imensa variedade, o qual, de certo modo, se distingue claramente de um segundo, constituído pelos transportes, armazenagem (no sentido restrito) e comunicações, e ainda de um outro grande sub-grupo, o terceiro, formado pelos bancos e demais instituições financeiras, seguros, operações sobre imóveis e serviços prestados às empresas, a que se somam os serviços prestados à colectividade, serviços sociais e serviços pessoais e, convencionalmente, as próprias actividades mal definidas». «... a necessidade de classificar de uma forma expedita e sistemática a sua grande variedade que, aliás, está sempre em contínuo crescimento.» (levou a) «procurar uma classificação tipológica que tivesse ao mesmo tempo a capacidade integradora de continentes específicos em relação aos seus conteúdos, com base numa razão, não matemática, mas de solidariedade de constituição e/ou de finalidades e, inversamente, permitisse não só o desdobramento desses continentes nos seus conteúdos, como ainda a possibilidade de inserção, na cadeia integrante dos diferentes níveis dos continentes, das novas formas de actividade, novos conteúdos, que entretanto pudessem ser criados. É assim que, em virtude do grande interesse em aumentar a comparabilidade dos valores estatísticos, em 1949, a ONU fazia publicar a chamada Classificação Internacional Tipo, por Actividades, de Todos os Ramos de Actividade Económica (CITA) que usou o sistema de desdobramento decimal, a qual mereceu entre nós, algum tempo depois, uma tradução em Português e mesmo em 1964 - dado aquela ser «uma classificação muito genérica, tornando-se necessária, para vários fins, uma classificação mais pormenorizada - foi publicada uma versão desenvolvida a que se chamou Classificação das Actividades Económicas Portuguesas por ramos de Actividade (CAE)». «A escolha da temática geral das 2.as Jornadas de Geografia Humana do Instituto de Estudos Geográficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - Terciarização e Desenvolvimento - se acaso fosse necessária, explicar-se-ia facilmente. Sem tudo querer abarcar, porém, é fácil compreender que a escolha consciente do termo-tema TERCIARIZAÇÃO, não passa, de facto, do entendimento liminar do significado do fenómeno assim designado e da sua importância no processo evolutivo da ocupação funcional dos tecidos urbanos e não só, nos fenómenos gerais de periurbanização, nos de rurbanização e, não menos, na perspectiva da sua consideração na prática, no âmbito das técnicas de planeamento. Naturalmente, a vastidão e a complexidade do tema não podiam permitir tratar - sequer aflorar - a totalidade dos seus aspectos. Por outro lado, convém não esquecer, «ab inicio», que o enfoque destes problemas não deve perder de vista o ângulo de visão que é o nosso, isto é, o da Geografia. Os factos de terciarização devem pois aparecer-nos logo à partida, genericamente, como um complexo e específico processo de evolução caracterizada, que privilegia - sem descurar as demais - as dinâmicas do conjunto de actividades humanas - referenciadas pelo genérico clarkiano como pertencentes ao sector terciário - os seus ritmos e particularmente, os consequentes efeitos diferenciadores na evolução da organização dos espaços. Mas a expressão geral do lema das Jornadas tem um segundo termo-tema, DESENVOLVIMENTO, e esta segunda escolha, não casual também, significa ao mesmo tempo uma intenção científica e outra, concomitante, de focagem crítica no âmbito da filosofia política. Já noutra ocasião procurámos focar em contraponto o conceito de desenvolvimento nas suas reacções com o crescimento urbano. Retenhamos dele agora a permanente necessidade de que o crescimento urbano (normalmente marcado pelo seu cariz economicista e não raro confundido em absoluto com o de crescimento económico) seja antes o discurso do verdadeiro desenvolvimento, diríamos, desenvolvimento equilibrado ou de rosto humano, e não aquilo a que Michel Bassand, Professor de Sociologia Urbana de Lausanne, com outros, apelidou de «maldéveloppement». De resto, a tradução desta palavra em Português exprimirá melhor, creio, o respectivo conteúdo semântico se a fizermos sob a forma de desenvolvimento erróneo, ou enganador, ou ainda de falso desenvolvimento. Assim, a perspectiva que este binómio necessariamente implica, antes de mais, liga-se à própria consideração da dimensão, ou melhor, das dimensões da terciarização, no plano da intensidade das ocorrências, no das induções resultantes, no da sua distribuição espacial, tanto quanto ainda, e não o menos importante, no dos ritmos do processo e no das suas consequências para um verdadeiro desenvolvimento, isto é, no plano da qualidade de vida das populações. Mas, que significa afinal, numa perspectiva de geógrafo, o fenómeno da terciarização? Antes de mais, e quase em sentido vulgar, dir-se-á que a terciarização é um processo acelerado de alteração do sistema funcional suportado por uma dada área territorial. Naturalmente, não se excluem do conjunto as alterações concomitantes no âmbito da própria estrutura dos grupos humanos, nos seus comportamentos e atitudes, como sujeitos ao mesmo tempo activos e passivos».
«... Colin Clark, dans un effort de systématisation qui fut d'emblée salue par les scientifiques de tous domaines, répartit les activités économiques en trois groupes appelés très simplement: secteur primaire, secteur secondaire et secteur tertiaire. Ces désignations naïves résument sous leur aspect sémantique, le concept d'évolution phylogénique des phénomènes ainsi que le concept non moins important de solidarité entre les éléments et les facteurs qui y interviennent». «…, le secteur tertiaire comprend los activités telles que les commerces de gros et de détail ainsi que les services. Les commerces, dans leur immense variété, constituent un premier sous- groupe, distinct d'un second, constitué par les transports, le magasinage (au sens strict) et les communications, et d'un troisième, important lui aussi, constitué par les banques et autres organismes financiers, les assurances, l'immobilier et les services aux entreprises, auxquels il faut ajouter les services à la collectivité, les services sociaux et services aux personnes ainsi que, conventionnellement, les activités mal définies». «… la nécessité de classifier rapidement et de façon systématique cette grande variété d'activités - qui, par ailleurs, ne cesse de s'élargir -» (implique) «la nécessité d'une classification typologique qui ait à la fois la capacité d'intégrer des contenants spécifiques associes à leurs contenus sur une base non mathématique mais d'affinités de constitution et/ou de finalité, et qui, inversement, permette non seulement le déploiment de ces contenants dans leurs contenus, mais aussi l'insertion, dans la chaine des différents niveaux de contenants, des nouvelles formes d'activités- c'est-à-dire de nouveaux contenus - , qui peuvent entretemps apparaître. C'est ainsi que, en vertu du grand intérêt que représentait l'augmentation des moyens de comparaison des valeurs statistiques, l'ONU fit publier en 1949, une Classification Internationale Type, par activités, de toutes les branches de l 'Activité économique (CITA), utilisant le système de développement décimal, qui bénéficia, quelques temps plus tard, d'une traduction en portugais. En 1964, date à laquelle «à la suite d'une classification très générique, une classification plus détaillée s'avéra, pour différentes raisons, nécessaire», fut publiée une version développée intitulée Classification des Activités Economiques portugaises par branches d 'activités (CAE)». «Le choix du thème général des secondes Journées de Géographie Humaine de l'Institut d'Études Géographiques de la Faculté des Lettres de l'Université de Coimbra - Tertiarisation et Développement - s'explique, si besoin est, facilement. Le but étant de ne pas traiter d'un ensemble de choses trop vaste, il est aisé de comprendre que le terme-thème consciemment choisi de TERTIARISATION, ne dépasse pas, de fait, le sens premier du phénomène en question et son importance dans le processus d'évolution de l'occupation fonctionnelle des tissus urbains, dans les phénomènes généraux de périurbanisation, de réurbanisation, ainsi que dans ses aspects pratiques, dans le cadre des techniques de planification. Naturellement, l'importance et la complexité du thème n'ont pas permis de traiter- ni même d'aborder - l'ensemble de ses aspects. Par ailleurs, il convient de ne pas oublier l'angle d'approche qui est le nôtre, c'est-à-dire celui du géographe. Les faits de tertiarisation doivent être dès lors considérés comme un processus complexe et spécifique d'évolution caractérisée, privilégiant la dynamique de l'ensemble des activités humaines - appartenant, selon la classification clarkienne, au secteur tertaire -, de leurs rythmes et particulièrement, des effets différentiateurs qui en résultent, sur l’évolution de l’organisation des espaces. Mais un second terme-thème complète le thème général des Journées, celui de DEVELOPPEMENT. Ce second choix, bien conscient lui aussi, témoigne à la fois d'une intension scientifique et d 'une intention critique dans le cadre d'une philosophie politique. Nous avons déjà eu l'occasion de nous pencher sur le concept de développement dans ses relations avec la croissance urbaine. Retenons de cette étude la nécessité pressante de placer la croissance urbaine (souvent marquée de traits économicistes et à l'occasion confondue avec la croissance économique) avant le discours du véritable développement, du développement équilibré ou à visage humain, pourrait-on dire, et non pas de celui que Michel Bassand, professeur de Sociologie Urbaine à Lausanne nomme, avec d'autres, «maldéveloppement». Ainsi, la perspective que ce binôme implique nécessairement est-elle avant tout liée à la dimension propre, ou mieux, aux dimensions propres de la tertiarisation, sur le plain du nombre d'occurences, des inductiones résultantes, de leur répartition spatiale ainsi que sur le plain non moins important des rythmes de progression et de leurs conséquences, dans le but de parvenir à un véritable développement, c'est-à-dire concernant la qualité de la vie. Mais que signifie, dans une perspective géographique, le phénomène de terciarisation? On peut dire que la tertiarisation est avant tout un processus accéléré de modification du système fonctionnel subi par une zone territoriale donné. Naturellement, il ne faut pas exclure de l'ensemble les modifications concomittantes qui affectent la structure propre des groupes humains, dans leurs comportements et attitudes de sujets à la fois actifs et passifs».
«Colin Clark, in an efforte to create a system, divided economic activities into three groups, which he described as sectors of activity and called the primary, secondary and tertiary sectors. This method was readily adopted by scientists and the literature of different specialities. In reality, these simple definitions, in their semantic expression, summarize the concept of the phylogenic sequence of economique phenomena and, last but not least, the concept of interrelation between elements and their intervening agents». «..., the tertiary sector includes activities such as the wholesale trade, the retail trade and the services. Commerce constitutes a vast first sub-group, clearly distinct from a second one which includes transport, storage (in a limited sense) and communications, and a third, also large, one which comprises banks and other financial institutions, insurance companies, state agencies, all forms of services rendered to companies, communities or individuals and conventionally, all activities with no formal definition». «The need to promptly and systematically classify its great and ever- expanding diversity» (lead to) «the search for a standard classification which had both the integrating ability of specific continents in relation to their contents, based on a reasoning of organic interrelation, and, inversely, allowed not only the unfolding of these continents in their various contents, but also the insertion, at different levels of the continents, of different forms of activities, new contents which could be created. Interested in increasing the comparability between different statistical values, the UN published, in 1949, the so-called Standard International Classification, by activity, of all branches of Economic Activity (CITA), which used the decimal system and was translated into Portuguese despite being «a very generic classification, a more detailed classification being needed, for various purposes». The Classification of Portuguese Economic Activities by Activity Branches (C.A.E)» was then published in 1964. «It is easy to explain the choice of the theme for the 2nd Meeting on Human Geography by the Institute for Geographic Studies, Faculty of Letters, University of Coimbra - Tertiarization and Development. The deliberate choice of the term TERTIARIZATION just begins to explain the phenomenon itself and its importance to the whole evolutionary process of urban occupation - whether peripheral urbanization, urban renovation and, not least, its practical application in the sphere of planning techniques. Obviously, the scale and complexity of the subject means that not all aspects could be covered. It is also important to bear in mind that analysis of these problems should primarily be seen from the Geographical point of view. The elements of Tertiarization, therefore, should be seen as part of a particular and complex evolutionary process which favours the human activities of the tertiary sector (as defined by Clark), their and effect on the organization of space. The choice of DEVELOPMENT as a second theme reinforces not only the scientific perspective, but also the critical approach from the point of view of political philosophy. We have previously sought to examine the concept of development and its relationship with urban growth. We may remember the urgent need for urban growth (normally identified by its economicist aspect, and quite often mistaken for economic growth) before discussing development as such, balanced development or development with a human face - and not what Michel Bassand, professor of Urban Sociology in Lausanne, described as «maldeveloppement». In fact, the translation of this word into Portuguese expresses more accurately, I believe, the notion that this form of development is misguided, deceptive or even false. Thus, the viewpoint of this binomial necessarily implies, first and foremost, that it is linked with the consideration of dimension, or, rather, the dimensions, of tertiarization, on the level of the intensity of its occurrence, consequences, spatial distribution, and no less important, the rhythm of this process and its impact upon true development, in other words, on the quality of life of the people. But what does the phenomenon of tertiarization mean from a geographer's point of view? Above all else, Tertiarization is basically an accelerated process of change in the functional system of a particular area, not excluding the concomitant changes in the structure of human groups, in their behaviour and attitudes, both as active and passive agents».
URI: https://hdl.handle.net/10316.2/40609
ISSN: 0871-1623
2183-4016 (digital)
DOI: 10.14195/0871-1623_10_1
Rights: open access
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