Mitopeia: notações para uma poiética do tempo e da história nos estilhaços da antropodiceia pessoana

Abstract

Mitopeia, criação pessoana de irrealidade, o mito como legibilidade derradeira do mundo. Nessa superrealidade, dada a julgada incapacidade da metafísica clássica, a superação possível - ingenium - da matéria, substância da arte, é a "ciência virtual" quanto metarreal ao superar mutáveis explicações ou a ilusória cientificidade da physis. Só operando a partir do conceito de arte poética (tarefa horaciana deixada a Ricardo Reis, corporizando o pensar abstrato nas três dimensões da palavra) se despertam imperceptíveis autorreferentes que as ciências, ou outras artes mecânicas e lógicas de uma racionalidade in-sensível, não detetam. Mas só a assunção de uma antropodiceia, uma Idade dos homens, permite compreender o sentido libertador dessa mitopeia.

Mitopeia, creation of unreality, the myth as the last legibility of the world. In that supereality, because of the so-called incapacity of classical metaphysics, the possible overcoming - ingenium - of the material, art's substance, it is the "virtual science" when metareal, since it surmounts mutable explanations or the illusory scientificity of the physis. Only by operating from the concept of poetic art (the Horatian task left to Ricardo Reis, embodying the abstract thinking through the three dimensions of the word) it becomes possible to awake the imperceptible referents that sciences, or other mechanical and in-sensitive logical arts, cannot detect. However, only the assumption of a anthropodyssey, a human Age, allows us to comprehend the liberating meaning of that mitopeia.