Portugal na obra de António Vieira

Abstract

Trata-se de uma análise do pensamento do padre António Vieira a respeito de Portugal, da sua natureza e da sua função dinâmica no 'Tempo da conversão". Foi António Vieira quem melhor recebeu e projectou a ideia de império universal, agregando a ela o ser português. Para o jesuíta, ser português implicava projectar-se no mundo e viver para o mundo, elevar-se e sublimar-se num sonho de harmonia e paz universais, reinterpretando, à luz de categorias proféticas, a consciência de povo escolhido, que encarna e protagoniza o sentido das profecias bíblicas sobre o quinto e último dos impérios. Nele leremos uma concepção da história universal fortemente impregnada pelo movimento, pela transformação, pela novidade, pela reinterpretação em novos moldes dos textos antigos, de modo a exaltar e a sublinhar a missão de Portugal, no tão apetecido quadro barroco da articulação entre a pequenez dos meios e a grandeza dos fins e dos objectivos. A importância dos fins, como horizonte da acção humana e particularmente dos Portugueses, condu-lo não à história do passado, mas à história do futuro, a história do "por vir" que se apresenta como via de superação da consciência de crise que o barroco expressa, e superação também do pessimismo antropológico que apresenta em tantos dos seus textos. O futuro em que devemos ter esperança é o do reino de Cristo consumado na terra, um império, que tendo uma expressão política, apresenta sobre ela uma natureza apostólica.

This paper presents an analysis of the Jesuit priest António Vieira's thoughts on Portugal, its nature and its dynamic function during the "time of conversion". It was Antonio Vieira who best received and projected the idea of a universal empire, incorporating into it a sense of being Portuguese. For the Jesuit, being Portuguese entailed projecting oneself onto the world and living for the world, elevating and sublimating oneself into a dream of universal harmony and peace, reinterpreting, in light of prophetic categories, the conscience of a chosen people, which embodies the meaning of biblical prophecies about the fifth and last of the empires. In Vieira we can find a conception of universal history strongly imbued with motion, transformation, novelty, as well as with fresh reinterpretations of ancient texts. This is done so as to exalt and emphasize Portugal's mission, in the ambitious baroque framework of the relation between the scarcity of means and the magnitude of desired ends. The importance of desired ends as the horizon of human action and of the Portuguese people in particular, leads Vieira not to the history of the past but to the history of the future, of "that which is yet to come". It is a history which presents itself as a way to overcome the crisis awareness expressed by the Baroque and also to overcome the anthropological pessimism that characterizes many of his own texts. The future on which we must rest our hope is that of the kingdom of Christ on earth, an empire that, while manifesting itself politically, endows that manifestation with an apostolic nature.