De uma frágil radicalidade: a passo de gato no pensamento (político) de Jean‑Luc Nancy

Abstract

Este título parte da afirmação de um tempo incoincidente, fora da ordem do tempo no tempo da desconstrução e que se diz (também) na interrogação da possilidade de um «Nós», assumido na herança de um «com» arqui‑originário que ex‑põe, abre e endereça. Resistência indomesticável, o sentido, na sua circulação de cada vez nascente, inscreve‑se no pensar das artes e da política em Jean‑Luc Nancy. Este texto pretende, então, ler e escutar o liame entre arte e política – cuidando‑se evitar o perigo seja de uma concreção onto‑teológica da palavra política seja da contaminação abusiva da arte convertida em arte política, na ingenuidade circunstancial de um engagement –, sublinhando de modo mais expressivo o tom, a cadência e a deslocação que a palavra ‘política’ vem assumindo na escrita de Nancy. A passo de gato, isto é, reconhecendo a invasão de uma vinda imprevista e indómita que, na antiguidade de uma ‘herança’ e na voragem de uma ‘promessa’, diz‑se em excesso face a uma política centrada, ancorada e dimensionada na polis, nas fronteiras da razão, no desenho teológico‑político do poder e da governação.

Ce titre part de l’affir- mation d’un temps incoïncident, hors de l’ordre du temps dans le temps de la déconstruction et qui se dit (aussi) dans l’interrogation de la possibilité d’un «nous», assumé/approprié lors d’un héritage d’un «avec» archi‑originaire qui ex‑pose, ouvre et adresse. Résistance indomptable, le sens, dans sa circulation chaque fois naissante, s’inscrit au coeur de la pensée des arts et de la politique chez Jean‑Luc Nancy.Ce texte veut donc lire et écouter le lien art et politique – avec la préoccupation d’éviter le danger soit d’une concrétion onto‑théologique du mot politique soit de la contamination abusive de l’art convertie en art politique, dans l’ingénuité circonstancielle d’un engagement – en soulignant de façon plus expressive le ton, la cadence et la dislocation que le mot « politique » assume dans l’écriture de Nancy. A pas de chat, c’est‑à‑dire, en reconnaissant l’invasion d’une venue sans prévision et indomptable qui, dans l’antiquité d’un héritage et dans la voracité d’une promesse, s’affirme comme excessive face à une politique ancrée et dimensionnée dans la polis, dans les frontières de la raison, dans le dessin theologico‑politique du pouvoir et du gouvernement.

This title affirms a non‑coincident time, out of the order of time, in the time of Deconstruction. A time questioning the possibility of a “we” which inherits a “with” that ex‑poses, opens and addresses. In its untamable resistance, in its everlasting circulation, sense places itself as the center of Jean‑Luc Nancy’s thought regarding arts and politics. The following text develops the connection between arts and politics while trying to avoid the risk of an onto‑theological crystallization of politics and the abusive contamination of the artistic by the political, traced through the expression “political art” and circumstantial ingenuity of a political engagement. Therefore, we try to underline the tone, the rhythm and the shift that a word such as “politics” assumes throughout Nancy’s writing. We use “cat steps” to emphasize the unpredictable and unannounced character of an arrival which, as legacy and as promise, exceeds a politics based in the “polis”, in the limits of reason, and in the political‑theological frames of power and governance.