Mar, música e ideologia: Portugal entre Os Lusíadas e a História Trágico-Marítima

Abstract

É axioma, se não mesmo lugar-comum, afirmar que o mar desempenhou um papel decisivo na História Portuguesa. De resto, que dizer da sua quase omnipresença nos elementos mítico-culturais imediatamente relacionáveis com a "índole" nacional: saudade, fado, sebastianismo? As suas marcas, que perpassaram os mais diversos domínios artísticos e culturais, tiveram, na música do século XX, um eco também ele idiossincrático. Desta forma, na formulação musical do mar buscou-se, consciente ou inconscientemente, reflectir acerca do passado e do destino dos portugueses, revelando assim um dos caminhos possíveis a trilhar pelo nacionalismo. Em consonância ou dissonância com a ideologia dominante da época, várias visões/interpretações da História viram a luz do dia: a cíclica de Viana da Mota; a etnográfica de Frederico de Freitas; e a anticolonialista e desmitificadora de Lopes-Graça.

It is an axiom, or just common sense, to assert that the ocean played a decisive role in Portuguese History. How else to view its all but complete omnipresence in those mythical and cultural elements - namely saudade, fado, Sebastianism - directly traceable to the national "character"? Its mark, which is pervasive in a wide variety of artistic and cultural spheres, was also singularly felt in 20th century music. Giving musical expression to the ocean was therefore a conscious or unconscious attempt to reflect upon the past and the destiny of the Portuguese people, thus revealing one of the possible paths to be followed by nationalism. Several visions/ interpretations of History were brought to life, some conforming to the dominant ideology of the time, others out of step with it: Viana da Mota's cyclical vision, Frederico de Freitas' ethnographic approach, and Lopes-Graça's anti-colonialist, demystifying take.